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?A lealdade dá oportunidade aos traidores.?

(Sêneca, Édipo)


Quando ouvimos falar de fidelidade e infidelidade, normalmente a primeira coisa que nos vem à mente é algo que remete à relacionamentos românticos monogâmicos, não é?


Mas se pra você essas palavras são gatilhos para outras coisas, por favor, diga nos comentários.


O fato é que não podemos reduzir tanto. A Fidelidade, com certeza, está ligada ao Amor. Mas o Amor vai além da relação do Casal.


?A fidelidade é o amor consagrado ao que aconteceu.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Oi, eu sou o Alex, e no Superleituras de hoje vamos continuar nossa conversa sobre as virtudes abordadas por André Comte-Sponville no seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, falando desta vez sobre a fidelidade.


E quem ler o artigo até o final, vai sair daqui sabendo quando alguém deve ser infiel e continuar virtuoso.


Vamos lá.


Para entender a virtude da Fidelidade é preciso saber que:


?A fidelidade é virtude de memória, e a própria memória como virtude.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Pensa comigo. É impossível ser fiel àquilo que a gente já esqueceu, não é?


Assim a fidelidade exige um constante esforço de lembrança daquilo a que juramos nossa fidelidade, e só depois que traímos aquela condição, podemos nos esquecer dela.


Olha que interessante, então! A fidelidade é virtude de memória, mas a infidelidade, seu oposto, não é o vício do esquecimento. E sim, da inconstância, da frivolidade, do não se importar com determinado compromisso.


A memória, como sabemos, não é exata?  além disso, esquecer das coisas é a regra. Lembrar do que importa é a exceção. E é aí que entra a fidelidade como virtude.


?É esse o dever da memória: piedade e gratidão pelo passado. O duro dever, o exigente dever, o imprescindível dever de ser fiel.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Vamos pensar em exemplos pra facilitar.


E pra isso, vamos apresentar os 3 principais domínios particulares da fidelidade.


O pensamento, a moral e o casal.


O domínio do Casal é  algo muito pessoal, e são muitas as formas de amar.


Algumas, tenho certeza, podem ouriçar os espectadores mais recatados, e o objetivo deste vídeo não é transformar isso em polêmica. Basta dizer que cada um cuida da sua vida amorosa como bem entende.


Em um relacionamento entre pessoas que se amam, a fidelidade não pode ser simplesmente reduzida à exclusividade sobre o corpo do outro. 


O sucesso de um casal, para Comte-Sponville, tem mais a ver com a manutenção do amor que os uniu.


?Supõe, portanto, a fidelidade, pois o amor só dura sob a condição de prolongar a paixão (...) por memória e vontade.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Por mais que possa haver a renovação diária do amor, por mais que alguns casais consigam manter acesa uma chama eterna. A ideia de fidelidade que o filósofo traz é bastante interessante e até bem bonita.


?Nenhum casal, com maior razão, poderia durar sem essa fidelidade, em cada um, à sua história comum, sem esse misto de confiança e gratidão pelo qual os casais felizes (há alguns) se tornam tão comoventes, ao envelhecer, mais até que os namorados que começam, que na maioria dos casos, ainda não fazem mais que sonhar seu amor. ?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Vamos agora à fidelidade do pensamento.


?Mais geralmente só podemos dizer que um pensamento só escapa do nada ou do bate-papo pelo esforço, que o constitui, em resistir ao esquecimento, à inconstância das modas ou dos interesses, às seduções do momento ou do poder. Todo pensamento, observa Marcel Conche, ?correrá continuamente o risco de perder-se, se não fizermos o esforço de guardá-lo. Não há pensamento sem memória, sem luta contra o esquecimento e o risco de esquecimento?.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Ideias não morrem porque as mantemos vivas em nossas memórias e buscamos colocá-las em prática.


Lembrar de um pensamento, de uma ideia é o próprio exercício da razão, tanto quanto conhecer e promover novas ideias.


Mas, veja só? até para termos novas ideias é preciso recorrer à lembrança de ideias anteriores. Por que é preciso ter algum parâmetro com o qual comparar a nova ideia.


E aqui é imprescindível não se esquecer de um detalhe.


?Ser fiel ao pensamento, não é recusar-se a mudar de ideia (dogmatismo), nem submeter suas ideias a outra coisa que não a elas mesmas (fé), nem considerá-las como absolutos (fanatismo): é recusar-se a mudar de ideias sem boas e fortes razões e - já que não se pode examinar sempre - é dar por verdadeiro, até novo exame, o que uma vez foi clara e solidamente julgado.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Por isso, nós do Superleituras fazemos questão de pensar os problemas atuais a partir das reflexões elaboradas pelos grandes pensadores da humanidade. Justamente por ser um conhecimento experimentado, sem risco de se mostrar uma modinha passageira.


?Que filósofo não relê Aristóteles? (...) a filosofia medita e se lembra. Aliás, o que é a filosofia, senão uma fidelidade extrema ao pensamento??

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


E o que seria, então, a fidelidade da moral?


A moral começa pela polidez. Somos educados a fazer aquilo que é o certo e com o tempo, o que era obrigação se transforma em hábito.


A moral se forma quando surge a fidelidade ao que é correto.


?Fidelidade ao amor recebido, ao exemplo admirado, à confiança manisfestada, à exigência, à paciência, à impaciência, à lei??

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Independentemente da fé de cada um, é fácil perceber que a sociedade ocidental  contemporânea não tem um valor absoluto de onde pode extrair um princípio moral. E como não existe um fundamento para a moral, a fidelidade, aparece como substituto.


Nossa moral é fiel:


?à presença em nós, sempre particular, do passado, quer se trate do passado da humanidade em geral (a cultura, a civilização: o que nos separa da barbárie), quer se trate, em particular, de nosso passado pessoal ou daquele de nossos pais (... o que separa nossa moral da moral dos outros).?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Até aqui, a gente viu que a fidelidade é uma virtude que permeia basicamente todas as nossas dimensões. Então, quando é que a gente pode ser infiel, afinal de contas?


??A fidelidade na tolice?, observa Jankélévitch, ?é uma tolice a mais?.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


A fidelidade não é virtude quando se é fiel a coisas essencialmente negativas.


A fidelidade ao ódio é rancor, a fidelidade a uma ideia fixa,  de forma cega, como vimos, é fanatismo. Assim como a fidelidade a coisas insignificantes é mesquinharia.


?A fidelidade não desculpa tudo: ser fiel ao pior é pior que renegá-lo.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Portanto, devemos saber exatamente a que devemos fidelidade. Exercitando nosso pensamento, buscando autoconhecimento, reforçando nossos valores, praticando os bons hábitos.


Pois, por outro lado,


?A fidelidade não é um valor entre outros, uma virtude entre outras: ela é aquilo por que, para que há valores e virtudes. Que seria a justiça sem a fidelidade dos justos? A paz, sem a fidelidade dos pacíficos? A liberdade, sem a fidelidade dos espíritos livres? E que valeria a própria verdade sem a fidelidade dos verídicos? Ela não seria menos verdadeira, decerto, mas seria uma verdade sem valor, da qual nenhuma virtude poderia nascer.?

(André Comte-Sponville, O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)


Para exercitar o pensamento, praticar os bons hábitos e se aprofundar no autoconhecimento, buscando ser fiel a si mesmo de forma cada vez mais virtuosa, te convido a clicar aqui ou no primeiro link da descrição e adotar a filosofia como estilo de vida.


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Grande abraço e até a próxima!