"Observando mais de perto, fica claro que toda forte ascensão de poder na esfera pública, seja de natureza política ou religiosa, infecta grande parte da humanidade com a estupidez. (?) O poder de um precisa da estupidez do outro.? (Dietrich Bonhoeffer, Cartas e Documentos da Prisão)
Vou repetir:
?Infecta grande parte da humanidade com a estupidez.?
E ?O Poder de um precisa da estupidez do outro.?
Guarde isso, pois vamos voltar a esse tema.
A dura sentença acima foi escrita numa prisão nazista pelo teólogo, pastor luterano e professor universitário Dietrich Bonhoeffer.
Desde a ascensão do Nazismo na Alemanha, ele foi um opositor.
Ele foi preso acusado de participar de um complô contra Hitler.
Condenado à morte, foi enforcado na madrugada de 9 de abril de 1945, num campo de concentração em Flössenburg.
Pouco tempo depois, o regime caiu.
Durante sua estadia na prisão, ele registrou vários pensamentos na obra que hoje conhecemos como "Cartas e Documentos da Prisão".
Nela, encontramos sua reflexão sobre a estupidez.
Poucos textos são tão pertinentes ao nosso tempo, em que os estúpidos, por meio das redes sociais, têm um alcance quase ilimitado.
Este é um texto impactante, mas espero que você o leia, reflita e compartilhe-o com outras pessoas.
Mas por que você deveria se preocupar com isso, afinal?
Porque o indivíduo dito estúpido é alguém extremamente perigoso!
Como afirma o autor:
?Portanto, a relação com o estúpido exige muito mais cautela do que com a pessoa má. Nunca se há de convencer o estúpido pela razão ? é inútil e perigoso.?
Você pode demonstrar a um estúpido, por exemplo, os erros, a corrupção e a incompetência de um líder político que ele idolatra.
Mas eles jamais se convencem.
Ao contrário, eles se satisfazem consigo mesmos e com os slogans de sua patota.
Sim, estúpidos, como veremos, tendem a andar em grupos.
Bolhas que servem para alimentar suas falácias e valores deturpados.
A pior parte é que quando você desmascara um estúpido, ele se enfurece!
Antes de qualquer coisa, você precisa entender a natureza de um estúpido, como ensina o autor:
?Para saber lidar com a estupidez, é preciso primeiro entender sua natureza. Não se trata essencialmente de um defeito intelectual, mas algo que afeta a humanidade do indivíduo. Tanto é assim que há pessoas com inteligência extraordinariamente ágil que são estúpidas, e pessoas intelectualmente pesadas que podem ser tudo, menos estúpidas.?
A grande lição aqui é que a estupidez não é um defeito intelectual.
Não se trata, obviamente, da capacidade intelectual das pessoas.
Também fica claro que não se trata apenas de associar a estupidez, como ensina o teólogo, com a falta de conhecimento pura e simplesmente.
É algo mais profundo.
É um problema moral.
Mas qual é então a natureza da estupidez?
?Parece que a estupidez não é propriamente um defeito congênito, mas um processo pelo qual as pessoas se tornam estúpidas sob certas circunstâncias, ou se tornam estúpidas reciprocamente.?
Ou seja, elas permitem que isso aconteça com elas.
Esse é inclusive um grande perigo de ficar dentro de uma bolha.
Você só vê um lado das coisas, apenas consome os mesmos discursos e visões distorcidas do mundo.
Com as bolhas nas redes sociais, isso piora ainda mais, porque as pessoas consomem conteúdo sem reflexão, sem fonte, sem nada.
Há uma quantidade absurda de pessoas afirmando isso e aquilo sobre todos os assuntos: política, pandemia, vacinas, meio ambiente, educação, linguagem, armas de fogo, até filosofia!
Mas sem formação, sem reflexão e sem verificar as fontes primárias.
Muitas vezes, repetem como papagaios o discurso que foi implantado em suas mentes.
Não é à toa que o autor também afirma:
?Também observamos que a estupidez aparece mais em pessoas ou grupos propensos ou condenados a viver em conjunto do que em pessoas mais fechadas, reservadas e solitárias. Assim, parece que a estupidez é um problema mais sociológico do que psicológico.?
Imagine uma pessoa indo contra o fluxo em uma avenida, gritando sozinha na rua frases como: "Abaixo isso" ou "Abaixo aquilo".
Ela olha para as pessoas nas lojas e nos carros, gesticula e grita querendo ser ouvida, querendo se impor a qualquer custo.
Uma cena estranha, concorda?
Muitos diriam até que se trata de um louco...
Vale dizer que, sozinhas, boa parte das pessoas não age dessa forma.
Mas se ela estiver em grupo... as coisas mudam.
A mesma pessoa que passa despercebida nas ruas e não quer ser notada... muda quando se junta a um grupo com um líder e discurso ideológico.
Neste ponto, não se trata do direito de as pessoas se manifestarem, mas do fato de que as pessoas não refletem sobre suas ações e podem anular sua individualidade e consciência ao adotar discursos e tomar atitudes violentas em nome de uma ideologia e seus pseudolíderes.
Aquela pessoa aparentemente pacífica, agora em grupo e motivada por um discurso perigoso, pode até mesmo cometer atos violentos.
Num passado não muito distante, houve o horrendo episódio de uma pessoa defecando na rua como forma de protesto.
A estupidez não tem limites...
Mas certamente não se limita a isso: frequentemente, vemos pessoas incendiando lojas, destruindo espaços públicos e até praticando espancamentos coletivos.
Hoje em dia, existe até mesmo o espancamento virtual, algo bastante comum...
Muitas dessas pessoas envolvidas nesses atos, provavelmente sozinhas, nunca cometeriam muitas dessas atrocidades.
Por isso, durante a ascensão do Nazismo, as pessoas se reuniam nas ruas e queimavam livros nas praças. E isso, como sabemos, foi a menor das atrocidades cometidas.
Elas não se envergonhavam disso.
No entanto, muitas delas, por si só, nunca considerariam fazer tal coisa.
?O fato de o estúpido muitas vezes ser teimoso não significa que ele seja independente. Conversando com ele, você quase pode sentir que seu discurso nem sequer tem a ver com ele mesmo, com aquilo que o constitui. São frases de efeito, slogans e chavões que se apoderaram dele.?
Essa loucura é verdadeiramente perigosa.
Os soviéticos stalinistas, por exemplo, deportaram milhares de camponeses mais ricos, os kulaks, para a Sibéria, de maneira arbitrária, levando centenas à morte.
?Faremos sabão dos kulaks? era um slogan raivoso que não apenas os soldados e membros do partido ouviam, mas também as pessoas comuns!
Conta-se que esses camponeses foram obrigados a andar nus pelas ruas e sofreram todo tipo de humilhação.
Mulheres foram estupradas e seus bens saqueados.
Muitos cavaram suas próprias sepulturas.
Reflita por um momento.
Não se pode afirmar que todas essas pessoas que cometeram esses atos absurdos de violência contra essas famílias fossem todas diagnosticadas como psicopatas assassinos.
Na verdade, eram pessoas comuns infectadas por essa estupidez coletiva.
Ela é mais perigosa do que se imagina.
O indivíduo nesse estado de estupidez, como afirma o autor:
?Está enfeitiçado, cego, abusado e maltratado em sua própria natureza. Tornando-se assim um instrumento sem vontade própria, o estúpido será capaz de todo o mal e, ao mesmo tempo, incapaz de reconhecer-se mau ou de reconhecer maldade em seus atos. Aqui está o perigo de um abuso diabólico. Como resultado, as pessoas serão destruídas para sempre.?
Isso explica o Holocausto Judeu perpetrado pelos Nazistas.
Isso explica as milhões de pessoas mortas pelos regimes comunistas.
E muitos outros casos ao longo da história, não apenas em grandes ditaduras.
Mas então, o que fazer?
?Na grande maioria dos casos, para superar a estupidez, a pessoa terá de aceitar que uma genuína libertação interior só se tornará possível após a libertação exterior; até então, sem essa condição, teremos que desistir de todas as tentativas de convencer os estúpidos.?
Sei que, à primeira vista, isso pode parecer pessimista.
No entanto, a vida e o martírio do autor demonstram que isso não é verdade.
Antes de morrer, consta que Bonhoeffer estava sereno.
Suas últimas palavras foram:
?Este é o fim - para mim, o início da vida?.
Ele não se desesperou.
O que ele está dizendo é que fatos e argumentos, e de certa forma apelar para a razão, não desmontam as crenças ideológicas dos estúpidos.
Ao contrário, eles podem se sentir atacados por isso.
Não é esse o caminho.
Quem já tentou contra-argumentar nas redes sociais com pessoas em bolhas ideológicas sabe o que estou dizendo.
Simplesmente não adianta. Normalmente, os estúpidos atacam a reputação de quem apresentou os fatos e argumentos.
A mensagem e a vida de Bonhoeffer merecem reflexão. Uma atitude muito rara hoje em dia.
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Vale a pena ler o texto sobre a estupidez na íntegra, entender o que o autor quis transmitir, refletir e tirar suas próprias conclusões.
Todas as fontes deste texto estão abaixo.
Eu sou Alisson e
Até a próxima.
Fonte: "Teoria da Estupidez" de Dietrich Bonhoeffer, publicado originalmente em "Widerstand und Ergebung. Briefe und Aufzeichnungen aus der Haft", editado por Eberhard Bethge.