Atenas, 2400 anos atrás. Um lugar compacto, onde apenas 250 mil pessoas vivem. Há ótimos banhos, teatros, templos, mercados e ginásios. É quente na maior parte do ano. É também a casa do primeiro verdadeiro e provavelmente maior filósofo: Platão. Nascido em uma proeminente e rica família da cidade, Platão dedicou sua vida a um objetivo: ajudar as pessoas a atingir o estado que ele chamou de eudaimonia, felicidade ou excelência.
Meu nome é Paulo Raphael, nós do Superleituras, também desejamos que você possa atingir essa eudaimonia.
Vamos lá.
Platão é muitas vezes confundido com Sócrates. Sócrates foi seu grande mestre, que ensinou muito a Platão, mas não escreveu nenhum livro. Platão escreveu muitos, 36 no total, todos diálogos, roteiros maravilhosamente escritos de discussões imaginárias nas quais Sócrates é sempre o protagonista. Dentre eles, A República, O Banquete, As Leis, Mênon e Apologia.
Platão teve quatro grandes ideias para tornar a vida mais satisfatória.
Uma vida não refletida não vale a pena ser vivida.
Raramente nos damos tempo para pensar cuidadosamente sobre as nossas vidas e como as vivemos. Às vezes, apenas seguimos o que os gregos chamavam de doxa, ou opiniões populares.
Nos 36 livros que ele escreveu, Platão mostra que esse senso comum estava cheio de erro, preconceito e superstição.
Por exemplo, a fama é boa, siga seu coração, dinheiro é a chave da vida feliz. O problema é que essas opiniões muitas vezes nos conduzem a valores, carreiras e relacionamentos errados.
A resposta de Platão é: conheça-te a ti mesmo. Isso significa fazer um tipo especial de terapia chamada filosofia.
Por exemplo, submeter suas ideias ao exame da razão, ao invés de agir por impulso. Se você fortalecer seu autoconhecimento, você não será dominado pelos sentimentos.
Platão disse que ser conduzido pelos sentimentos é como ser perigosamente arrastado por uma manada de cavalos selvagens. Em homenagem ao seu mestre e amigo Sócrates, esse tipo de exame é chamado de método socrático. Você poderia praticá-lo consigo mesmo ou, idealmente, com outra pessoa que não está tentando te derrubar, mas procurando te ajudar a clarear suas próprias ideias.
Isso soa estranho se você acha que o amor significa encontrar alguém que quer você exatamente do jeito que você é.
No Banquete, peça teatral de Platão sobre um jantar em que um grupo de amigos bebe bastante e fala sobre amor e relacionamentos, Platão diz que o amor verdadeiro é admiração. Em outras palavras, a pessoa que você deveria escolher deve ter qualidades das quais você mesmo não possui. Digamos que ele deva ser muito corajoso e organizado, ou caloroso e sincero. Ao se aproximar dessa pessoa, você se torna um pouco como ela. A pessoa certa para nós nos ajuda a crescer e atingir o nosso potencial.
Para Platão, em um bom relacionamento, o casal não deveria gostar do outro exatamente como eles são agora. Eles deveriam estar engajados em ensinar um ao outro, resistindo à passagem das dificuldades que são inevitáveis. Cada um deveria querer seduzir o outro a se tornar uma versão de si mesmo.
Todos, na maioria das vezes, gostam de coisas belas, mas Platão foi o primeiro a perguntar o porquê disso.
Ele encontrou uma fascinante razão.
Coisas belas nos sussurram importantes verdades sobre a vida boa. Nós achamos algo bonito quando inconscientemente sentimos nele qualidades que precisamos, mas que faltam em nossas vidas. Gentileza, harmonia, equilíbrio, paz, força. Coisas belas têm, portanto, uma função realmente importante. Elas ajudam a educar as nossas almas. A feiúra também é importante. Ela nos mostra características distorcidas e perigosas.
Platão passou muito tempo pensando sobre como os governantes e as sociedades ideais deveriam ser.
Nisso ele foi inspirado pelo maior rival de Atenas, Esparta. Esparta era uma cidade máquina de criar grandes guerreiros. Tudo o que os espartanos faziam, como criavam os filhos, como sua economia era organizada, quem admiravam, o que comiam, era feito com esse objetivo. Esparta era extremamente bem-sucedida do ponto de vista militar, mas essa não era a preocupação de Platão. Ele queria saber como a sociedade poderia melhorar sua produção, não de poder militar, mas de pessoas cheias de eudaimonia.
No seu livro, A República, Platão identifica diversas mudanças que devem ser feitas. A sociedade ateniense era muito focada nos ricos, como o Aristocrata Alcebíades e as celebridades dos esportes, como o boxeador Mílon de Crotona. Platão não se impressionava com isso, mas ele sabia que as pessoas que admiramos influenciam nossa visão, ideias e condutas, e maus heróis glamourizam falhas de caráter. Platão, portanto, queria dar a Atenas novas celebridades, colocando no lugar das atuais pessoas sábias e boas, como ele chamou de guardiões, modelos para o bom desenvolvimento de todos. Essas pessoas seriam conhecidas por suas contribuições nos serviços públicos, sua modéstia e hábitos simples, sua aversão aos holofotes, sua profunda e ampla experiência. Elas deveriam ser as mais honrosas e admiradas pessoas na sociedade.
Ele também queria o fim da democracia em Atenas. Ele não era louco, ele só percebia que poucas pessoas pensavam bem antes de votar, e por isso existiam tantos governantes ruins. Ele não queria substituir a democracia por uma horrível ditadura, mas queria prevenir as pessoas de votarem até que elas começassem a pensar racionalmente, ou seja, até que elas se tornassem filósofos. Do contrário, o governo seria apenas um tipo de mobilização popular.
Para ajudar no processo, Platão fundou uma escola, a Academia, em Atenas, que durou cerca de 300 anos. Lá, os pupilos aprendiam não apenas gramática e matemática, mas também como ser bons e geniais. Seu objetivo principal era fazer com que os políticos se tornassem filósofos. O mundo não vai dar certo, dizia ele, até que os reis se tornem filósofos, ou os filósofos se tornem reis.
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Um grande abraço e até breve.