?Eu mesmo sabia, por vezes, que me ofendera por nada, que aceitara voluntariamente a ofensa; mas essas coisas levam uma pessoa a tal estado que, por fim, ela realmente fica ofendida.?
(Dostoiévski, Memórias do Subsolo)
?Memórias do Subsolo? é um livro com poucas páginas, mas muito, muito conteúdo! Como não poderia deixar de ser, já que foi escrito pelo gigante da literatura mundial, Fiódor Dostoiévski.
Aqui, não vamos nos deter muito sobre o autor. Para saber mais sobre ele, você pode conferir nossos vídeos no youtube.
Por ora, basta que você saiba que esse livro foi publicado em 1864 e que Dostoiévski é considerado até hoje um dos maiores autores russos de todos os tempos, e que suas obras são repletas de argumentações filosóficas e dilemas existenciais.
Neste post do Superleituras, nós vamos conhecer um pouco sobre esse livro que, com pouco mais de 150 páginas, nos permite investigar os inúmeros corredores escuros que levam às profundezas da mente humana.
Não apenas da mente do homem do subsolo, mas da minha e da sua, como você vai perceber se tiver coragem de descer todos os degraus até o final deste texto.
A boa notícia é que, se conseguir, você vai ser duplamente recompensado. Fique atento!
Ah! E fique também tranquilo, porque apesar de pertencermos ao grupo dos que acreditam que não existe spoiler de clássico, nós não vamos contar o livro todo aqui, vamos percorrer apenas alguns daqueles corredores escuros, deixando os demais por sua conta e risco e, sinceramente, esperamos que você os explore o quanto antes!
?Memórias do Subsolo? é dividido em duas partes: a primeira se chama ?O Subsolo? e funciona como uma apresentação do personagem por ele mesmo. A segunda se chama ?A Propósito da Neve Molhada?, em que o protagonista nos relata 3 acontecimentos que, pelo menos para ele, foram marcantes.
O subsolo quase não pode ser visto como uma metáfora de tão literal que é! Além de fazer referência à pocilga em que vive, logicamente aponta para aquele lugar que muitos de nós têm até medo de investigar: o fundo da nossa consciência.
O grande problema é que nosso protagonista não levou uma vida refletida e equilibrada da forma que estimulamos aqui no Superleituras e na Escola dos Pensadores.
Como o próprio relata logo nas primeiras linhas: ?Sou um homem doente? um homem mau. Um homem desagradável??
É assim que ele se enxerga, e é assim que nós vamos enxergá-lo através do relato que nos apresenta.
Sabemos pouco sobre ele, sabemos que é um funcionário público de pouca importância, mal pago e aposentado.
Seu nome nunca iremos saber, por vários motivos. Em partes porque ele escreve para si mesmo, apesar de confrontar o tempo todo um leitor imaginário. Em partes porque ele é um personagem universal. Poderia ser qualquer um de nós.
Dostoiévski alerta na nota introdutória: ?Tanto o autor como o texto destas memórias são, naturalmente, imaginários. Todavia, pessoas como o seu autor não só podem, mas devem até existir em nossa sociedade.?
Logicamente ele se referia ao fim do século XIX, mais especificamente a sua São Petersburgo czarista, mas vejam só, o tempo passa e algumas coisas não mudam?
Você deve conhecer alguém assim ? talvez até você se reconheça um pouco nele.
O quê!? Não, calma! Não estou te chamando de doente ou de mau.
Olha o que o homem do subsolo escreve logo adiante: ?Menti a respeito de mim mesmo quando disse, ainda há pouco, que era um funcionário maldoso. Menti de raiva. (?) nunca pude tornar-me mau. A todo momento constatava em mim a existência de muitos e muitos elementos contrários a isso.?
Somos complexos assim mesmo, né?
Você já mentiu a respeito de si? Para causar impacto, para gerar compaixão, para não passar vergonha, para não se frustrar?
Você já mentiu a respeito de si para si mesmo? Por quê? Para quê? Essas são boas perguntas, não são?
Você foi avisado! Vamos descer fundo!
Olha só que coisa?
Quando o homem do subsolo busca expor seus pensamentos, seu ponto de vista em relação ao mundo e certas ideias, o que lemos é um turbilhão confuso de ideias muitas vezes contraditórias.
Seguindo seu fluxo de consciência, conseguimos perceber o quanto ele de fato é inteligente, instruído, como ele se deu conta dos problemas do seu tempo, como é consciente dos dilemas da humanidade. Da fé exagerada na razão, da importância dada ao homem de ação, da complexidade humana?
Ele conhece a torpeza da sua sociedade, ele sacou as artimanhas de certas relações sociais ardilosas, mas ele não se conhece a fundo, não tanto quanto imagina. Na verdade, ele mesmo é seu pior inimigo.
E ele não consegue se desvencilhar dessa teia que tão bem conseguiu identificar.
Em meio ao turbilhão de pensamentos, ele chega a algumas conclusões bastante interessantes. Como esta: ?Mas o homem é a tal ponto afeiçoado ao seu sistema e à dedução abstrata que está pronto a deturpar intencionalmente a verdade, a descrer de seus olhos e seus ouvidos apenas para justificar a sua lógica.?
Fala a verdade! Basta passar os olhos nos comentários de posts de internet ou nas conversas do grupo da família para perceber que, uma hora ou outra, praticamente todo mundo cai nessa armadilha. Se for em época de eleição, então?
Não é difícil que a gente comece a defender uma ideia, e mesmo quando ela não faz mais sentido, continuarmos apegados a ela, ignorando todos os sinais que provam que estamos errados e dando atenção apenas àquilo que confirma nossas certezas.
Todos nós temos um pouco do homem do subsolo em nós e, por isso, apesar de percebermos como ele é repugnante, sentimos empatia. Sim. Ele é repugnante! É difícil simpatizar com ele. Mas compreendemos seu dilema, entendemos que a falta de autoconhecimento dele não é tão diferente daquela que cada um de nós pode ter.
Compreendemos que é essa falta que o destrói, que o deixa sem rumo na vida, sem propósito claro. Ele próprio atesta tristemente que não descobriu quem de fato é e, por isso, não conquistou nada: ?Não consegui chegar a nada, nem mesmo tornar-me mau: nem bom, nem canalha, nem honrado, nem herói, nem inseto.?
É o problema da falta de autoconhecimento; é algo que te deixa sem ponto de partida e sem ideia de onde se quer chegar, ou seja, sem propósitos. Mina sua autoconfiança, sua determinação e te faz desperdiçar a vida.
Na segunda parte do livro isso fica muito mais evidente. Os acontecimentos que ele relata de memória ganham uma relevância desproporcional e nos revelam o quanto ele oscila entre momentos de arrogância e autodepreciação.
Puro e simples sinal de uma forte insegurança. Como ele não se conhece, não pode confiar no seu taco! E por isso se sente o tempo todo impotente e refém da imagem que acredita que os outros fazem dele.
Até quando ele se mostra arrogante, se considerando superior aos demais, ele está manifestando uma desculpa para não se relacionar de igual para igual e não correr o risco de ser julgado.
Veja se você já passou, em certa medida, por algo semelhante?
"Atualmente percebo, com toda a nitidez, que eu mesmo, em virtude da minha ilimitada vaidade e, por conseguinte, da exigência em relação a mim mesmo, olhava-me com muita frequência, com enfurecida insatisfação que chegava à repugnância e, por isso, atribuí mentalmente a cada um o meu próprio olhar."
Ah, o olhar dos outros? tão inquisidor, tão cheio de julgamentos? Se soubéssemos que na maioria das vezes ele não passa de mero reflexo de como nós mesmos nos enxergamos, tudo seria mais fácil.
Olha isso! O homem do subsolo recebeu um esbarrão na rua. Era um oficial que nem deu pelo caso, mas para ele, foi o fim do mundo. Não conseguia dormir pensando nisso. Precisava vingar sua honra!
Planejava febrilmente como se vingar. Ele precisava! Não poderia deixar que o outro pensasse que ele era de alguma forma um ser inferior. Ele precisava dar o troco! Da próxima vez iria se impor!
Em seu relato, com o devido afastamento, o homem do subsolo compreendia o seguinte: ?Eu mesmo sabia, por vezes, que me ofendera por nada, que aceitara voluntariamente a ofensa; mas essas coisas levam uma pessoa a tal estado que, por fim, ela realmente fica ofendida.?
Mas quantas vezes a gente até se dá conta do que de fato está acontecendo, dos nossos exageros, de qual seria a atitude correta a adotar, mas acabamos agindo impensadamente. Ou pior, não agimos, apenas ficamos vivenciando as possibilidades de ação em nossos delírios, assim como fazia o homem do subsolo.
Congelamos na hora H! Não tomamos nenhuma atitude porque não nos sentimos seguros o suficiente, porque temos medo do que os outros vão pensar.
Ele contou mais dois grandes casos: um encontro com antigos e malquistos colegas de escola e o encontro com Lisa, uma jovem prostituta. Espero que você leia o livro para conhecer em detalhes esses encontros e seus desdobramentos absurdos.
E o mais importante! Que possa refletir sobre a importância de buscar se conhecer e encontrar seus propósitos, para não vagar pela vida guiado pelas ilusões que nós mesmos criamos nas nossas cabeças.
Não sei se você já sabe, mas existe um método excelente para se descobrir os propósitos que devem nortear nossos passos, nos tornando pessoas mais conscientes de si e determinadas.
Você pode saber mais sobre ele neste link. Mas calma aí, lembra que falamos que você seria duplamente recompensado se descesse até o mais abissal recanto deste artigo?
Depois da última reflexão que vamos deixar aqui, você vai perceber que valeu a pena pensar sobre esse livro. E depois dela vamos te entregar um verdadeiro presente.
??E então? Ficaste acovardado, acovardado perante a realidade, acovardado de fato!? Pelo contrário, eu queria apaixonadamente demonstrar a toda aquela ?cambada? que não era de modo algum o medroso que eu mesmo imaginava ser.?
Não devemos de forma alguma ficar acovardados diante da vida, mas é importante que seja por coragem, por determinação, e não por um desejo infrutífero de se provar para os outros.
Não sei para você, mas o que mais nos chama a atenção nessa frase é o finalzinho dela: ?o medroso que eu mesmo imaginava ser.?
É urgente que a gente pare de se boicotar! Que a gente acredite mais na gente.
Que tenha o poder pessoal em alta, que vença a insegurança e conquiste maior autoconfiança!
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E, se quiser descobrir até onde você pode ir com seu potencial, sem se perder com as distrações pelo caminho, sem perder para você mesmo, confira este link.
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