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"Vivemos em um mundo vulnerável. E uma das formas com que lidamos com isso é anestesiar a vulnerabilidade. Vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo, mas também é a origem da alegria, da criatividade, do pertencimento, do amor?.

[Brené Brown - TED Talk 2010/ O Poder da Vulnerabilidade]



Doutora em Serviço Social e pesquisadora na Universidade de Houston, nos Estados Unidos, a americana Brené Brown ficou super famosa depois de apresentar um TED Talk, onde falou durante 20 minutos sobre ?O Poder da Vulnerabilidade?. Isso foi em 2010 e até hoje mais de 53 milhões de pessoas no mundo todo viram a palestra de Brené. Depois disso, ela também lançou vários livros que ficaram no topo da lista dos mais vendidos no The New York Times e esteve à frente de muitos workshops com grandes empresas do Vale do Silício.



Qual foi a novidade que a Brené trouxe que a tornou tão conhecida? Além de tratar, de uma forma totalmente descontraída, de temas que a sociedade gosta de varrer pra baixo do tapete, como medo e vergonha, Brené conta que ela mesma passou a vida tentando fugir da própria vulnerabilidade, por ser uma pessoa, assim, mais, digamos, ligada às estatísticas, ao que se pode mensurar analiticamente. 



E foi justamente esse tema, a vulnerabilidade, o enfoque de sua ampla pesquisa. A professora passou duas décadas investigando o assunto e avaliou cerca de 400 mil dados, para entender que é somente aceitando a nossa vulnerabilidade e encontrando meios sadios de lidar com ela, que conseguimos nos conectar de fato com as pessoas e ter experiências significativas. 



A pesquisa meio que deu um nó na cabeça da pesquisadora e, inclusive, no meio dela Brené buscou terapia para aceitar que também é vulnerável. 



Em seu estudo ela também descobriu uma espécie de padrão que chamou de ?coração-pleno?: pessoas que são capazes de experimentar felicidade e amor através da vulnerabilidade. 



Mas como será que elas conseguem isso?



Oi, eu sou o Alex, e no Superleituras de hoje vamos aprender com a Brené Brown porque assumir a vulnerabilidade é um sinal de bravura e só por meio disso podemos ser emocionalmente corajosos. 



Bem, mas antes de responder a essa pergunta de um milhão de dólares, vamos identificar melhor o que, na prática, seria essa tal de vulnerabilidade. 



Falar em vulnerabilidade não é falar apenas de vitória ou derrota, sucesso ou frustração. Esses são termos muitos simplórios de se pensar. Viver, diria a ?nova? Brené, após aprender com a pesquisa que realizou, não é uma equação.



Geralmente, quando ouvimos que uma pessoa está vulnerável, nos vem à mente uma alguém fraco, frágil. A essa palavra costumamos associar sentimentos de vergonha, a coisas que são íntimas, muito nossas e não queremos expor de jeito nenhum. Essa é a parte mais conceitual da vulnerabilidade. 



No dia a dia, porém, vulnerabilidade significa: 



- Saber pedir ajuda quando precisamos, pois muitos acreditam que ser forte é nunca precisar de ninguém; 



- Dizer não e até mesmo ser impopular quando necessário, encarando as críticas envolvidas nisso; 



- Nos apaixonarmos por alguém e nos declaramos no primeiro encontro, por que não? Enfrentar na cara dura o risco do sentimento não ser correspondido, sofrer pela rejeição, que seja!, mas simplesmente escolher ser sincero e direto, ao invés de se esconder, fingir frieza, mentir que não está apaixonado, fazer os conhecidos e prejudiciais ?joguinhos? sentimentais, sempre na moda; 



- Assumir que não sabe de alguma coisa e tentar coisas novas... Vulnerabilidade implica em humildade e somente sendo humilde a pessoa admite que não conhece alguma coisa, estando apto, assim, a aprender. 



- Dançar sem ter medo de ser visto como um idiota...



Bem, esse último item é só uma piada... Soa como uma piada, certo? Mas, sim, eu acredito que há muita gente que nas festas têm vontade de dançar loucamente, mas não dança porque sente medo do ridículo. Traduzindo: vul-ne-ra-bi-li-da-de. 



Vulnerabilidade, logo, seria aparecer, ser visto, o famoso ?botar a cara no sol?, olhar de frente os riscos, em qualquer que seja a situação: uma amizade, um romance, na hora de se preparar para um concurso, um encontro importante, ter uma conversa difícil em família? 



Pensando bem, a vulnerabilidade soa como ser ?de verdade?, uma pessoa real, não é? E se poupar em demasia para não assumir a própria vulnerabilidade significa perder muita coisa da vida, porque viver é ser vulnerável. 



Não precisa pensar muito pra saber que todos nós temos uma maior vulnerabilidade a algo. Até o Superman tem sua Kriptonita, não é mesmo? 



Em algum lugar da nossa trajetória tivemos nossa alma quebrada, isso faz parte do caminho existencial de todo mundo, seja quem for e a qual status financeiro pertença essa pessoa. Pode ter sido um relacionamento que não deu certo, um problema familiar, um sonho que nunca realizamos, uma experiência dolorosa de bullying ou preconceito, uma circunstância de humilhação, enfim, alguma frustração que nos machucou mais. 



?Há algo sobre mim que, se outras pessoas souberem ou virem, fará com que eu não mereça conexão??

[Brené Brown - TED Talk 2010/ O Poder da Vulnerabilidade]



Mas Brené Brown também observou que devido a essas experiências ruins do passado, comuns a todos nós, muitos se fecham em si mesmos e barram qualquer tipo de demonstração de vulnerabilidade. Eles fazem isso por medo do julgamento dos outros, por achar que tiveram experiências tão horríveis que são dignos de vergonha, então é melhor escondê-las completamente, erguer muros. 



Na verdade, afirma Brené, essas pessoas não acham que merecem ter um conexão real com as outras, porque se julgam severamente. 

É um conjunto de fatores: elas sentem que, em algum lugar da sua vida, erraram feio e que alguém errou feio com elas; elas se culpam e seguem carregando esse peso. Esses pensamentos se tornam circulares e sempre trazem questionamentos desgastantes e angústia sobre elas mesmas. 



?Conexão é o porquê de estarmos aqui. É o que dá propósito e significado às nossas vidas. É a razão de tudo.?

[Brené Brown - TED Talk 2010/ O Poder da Vulnerabilidade]



No meio de sua pesquisa, Brené Brown observou que é justamente quando vulneráveis que as pessoas conquistam uma conexão genuína com as outras. É aí que os laços verdadeiros se formam. 



A conexão é, de fato, uma necessidade humana universal. Basta pensar que desde que nascemos precisamos do contato físico e emocional para sobreviver. Dentre todas as espécies, os bebês humanos são os mais frágeis, necessitam de atenção e cuidado por vários anos. Sem esse carinho e cuidado inicial eles crescem incompletos.



Conforme o tempo passa, até a idade adulta, nossa necessidade de conexão não deixa de existir. Ela só aumenta, pois somos seres sociais. Não podemos esquecer, aliás, que o aprendizado só se concretiza em relação ao outro. É esse outro quem nos traz saberes diferentes de mundo, a partir de sua própria maneira de enxergar e sentir as coisas. É graças a essa interação, a essa troca de conhecimento, que nossa espécie segue evoluindo. 



?O problema é que você não pode seletivamente anestesiar emoções. Você não pode dizer: aqui está a parte ruim, aqui está a vulnerabilidade, aqui está a dor, aqui está a vergonha aqui está o medo, aqui está o desapontamento e eu não quero sentir isso. Você não consegue anestesiar esses sentimentos pesados sem anestesiar os outros sentimentos, as nossas emoções. Você não pode anestesiar seletivamente. Então anestesiamos também a alegria, a gratidão, anestesiamos a felicidade. Então ficamos infelizes, procurando por propósito e sentido, nos sentimos vulneráveis, daí tomamos algumas cervejas e comemos um muffin de banana e nozes. E isso torna esse ciclo perigoso?.

[Brené Brown - TED Talk 2010/ O Poder da Vulnerabilidade]



Sim, é perigoso de verdade. Analisando os dados coletados em seu estudo, Brené constatou que as pessoas que veem a sua vulnerabilidade como ruim tentam anestesiá-la, reprimi-la através de algum vício, a busca desordenada por alguma coisa. Pode ser a religião, perfeccionismo, trabalho demais... Resumindo: elas compensavam com algum comportamento debilitante e sem freios.

Façamos, aqui, uma breve pausa para falar sobre isso. 



Você já ouviu falar sobre o Parque dos Ratos? Na década de 70, o professor de psicologia Bruce Alexander fez um experimento muito interessante sobre drogas e vícios. Ele colocou água pura e água com morfina, para ratos sozinhos, em gaiolas. E o que aconteceu? Em pouco tempo, os ratos se tornaram viciados na droga e a ingeriram até morrer. 



Mais tarde, Bruce decidiu criar um Parque dos Ratos, como se fosse um parque de diversões, onde eles podiam se movimentar e interagir. A ideia era comparar as situações para encontrar a natureza do vício e em que condições ele se desenvolvia.  



Nesse lugar, os ratos tinham bolas coloridas para brincar, túneis para atravessar e espaço para correr e fazerem sexo entre si. O resultado surpreendeu: apesar da droga estar disponível o tempo todo, os ratos raramente a ingeriam e não ficavam viciados. 



A questão é que os ratos são biológica e comportamentalmente parecidos conosco. Nosso genoma é formado pelo mesmo número de genes que eles: 30 mil. Apenas 300 desse montante são responsáveis pelas diferenças entre nós e esses bichinhos. Em outra palavras: 95% do genoma de ratos e dos humanos é o mesmo, por isso os coitados são multiplicados à exaustão nos laboratórios, em todo tipo de experimentos.



Essa pesquisa de Bruce Alexander se tornou um marco no estudo dos vícios, pois demonstrou claramente o lado subjetivo de ser viciado e como os vínculos têm um papel importante nisso. Para Bruce, o oposto do vício, seja ele qual for, não é sobriedade, mas sim a conexão. 



Nesse sentido, as pesquisas de Bruce Alexander e Brené Brown convergiram completamente: quando a vida das pessoas está preenchida de relações significativas e propósito, elas não tendem a abusar de drogas ou ter comportamentos viciosos.



Ao contrário, quando as pessoas se sentem sozinhas e sem apoio, sem perspectiva, a tendência é que fiquem deprimidas, ansiosas, estressadas. Daí elas procuram alívio para essa situação em diversas formas de vício, como, por exemplo, excesso de internet, jogos de azar, cigarro, bebidas alcoólicas e pornografia. É como uma substituição, entenderam? Na verdade, elas estão em busca dessa conexão, que acontece junto com a vulnerabilidade tão falada por Brené Brown.



Mas, afinal, como você pode abraçar a sua vulnerabilidade sem medo e ser emocionalmente corajoso?



?Perfeccionismo é um mecanismo de defesa, nada mais. É um escudo de 20 toneladas que colocamos para parecermos fortes, para que ninguém nos machuque.?

[Brené Brown ? Entrevista Revista Trip/2019]



Segundo Brené Brown todos os seres humanos desejam a conexão, mas somente aqueles que se sentem merecedores são capazes de alcançá-la. E para isso é preciso estar aberto aos próprios erros, porque é apenas assim que conseguimos força para nos relacionar, aceitar desafios e buscar o que nos faz felizes. 



É como se alguém pensasse assim: ?sim, sou imperfeito, cometi vários erros, pessoas me machucaram, tenho medo às vezes, mas isso não muda o fato de que também sou corajoso, sou uma boa pessoa, posso ser forte e mereço amor e admiração?.



Você pode querer ser sempre o melhor que puder, em tudo o que faz. Não há nenhum problema nisso. A questão é que isso não pode ser buscado dentro de um padrão de perfeição alheio, aquele propagado pela mídia, por exemplo, ou por algum de seus familiares. 



Ou seja: você vai ser o melhor que conseguir, mas dentro das suas vulnerabilidades e imperfeições, respeitando as experiências que teve, os traumas, o conhecimento que adquiriu nesse caminho. 



Clicando neste link você vai aprender a reconhecer sua melhor versão, a sua pior versão, traçar o seu propósito, e trilhar esse caminho de descoberta e realização.



Lembra da pergunta de um milhão de dólares que fiz lá no começo? A Brené descobriu o que ela chamou de ?coração-pleno?: pessoas que conquistam felicidade e amor genuínos através da vulnerabilidade. 



Bem, parece inacreditável, mas é muito simples: elas conseguem isso somente por crerem sinceramente que não são as piores pessoas do mundo. Elas ousam ser autênticas, levam sua trajetória de um maneira suave, não ficam questionando o valor delas o tempo todo, se perguntando constantemente se são boas o suficiente. 



Tenha orgulho da sua história pessoal, isso é ter o coração pleno e estar aberto às conexões. Ninguém teve uma história como a sua. Só você tem essa história. Só você sabe o que te machucou.



O que você aprendeu. Então no momento em que sentir o desconforto da vulnerabilidade, não é para sentir vergonha de si mesmo. É para lembrar com afeto da sua própria história. 



Como eu disse antes, acredito que lembrar com orgulho seria o mais apropriado, mas se conseguir olhar para ela com afeição já é bastante coisa. Lembrar da sua própria história com amor pode ser seu maior apoio nas horas em que se sentir vulnerável, compreende? 



Pessoas de coração pleno seriam aquelas que sabem que não dá pra ter um comportamento robótico pra tentar evitar os erros, elas sabem que isso é uma ilusão. Talvez, claro, elas sofram por isso e paguem o preço, mas não vão se entupir de comida, não vão se encharcar de bebida... Elas sabem que a vida não traz garantias, que a realidade é que somos frágeis e vulneráveis, mas elas não vão se autodestruir por isso. 



Eu sei que falando assim parece doloroso, mas a verdade é que não há nada de mais com essas pessoas, elas só tentam viver com essa realidade e aceitar que muito de nossa vida é regido pelas emoções, muitas de nossas decisões são guiadas por elas. Elas não julgam a si mesmas ou aos outros de forma muito dura, procuram olhar com compaixão. É incrível, mas as recompensas por essa atitude incluem a felicidade, a criatividade e o amor.



Observar como agimos com os outros em momentos de vulnerabilidade também é útil. Se alguém ao nosso lado chora ou demonstra alguma emoção, qual é a nossa reação imediata? Ficamos irritados? Constrangidos? Temos dificuldade em dar apoio e sentir empatia pela pessoa? Isso pode nos mostrar bastante como anda o nosso grau de vulnerabilidade e como a encaramos.



Mas, atenção, Brenè Brown faz uma ressalva interessante: ser vulnerável não se trata de superexposição. Principalmente em tempos como o nosso, em que a noção de público e privado fica meio que diluída. 



Não é se desnudar, digamos, assim, para qualquer um. Não significa abrir completamente a vida, se confessar exageradamente.  Ser vulnerável tem a ver com conhecer a si mesmo e compreender seus limites, até onde você pode ir com a sua vulnerabilidade, o que é importante para você que seja dito e ter a consciência de que em quais momentos, de fato, é preciso se proteger mais. 



E você? O que faz você se sentir vulnerável? Você tem anestesiado a sua vulnerabilidade? Com o quê? Conta pra gente nos comentários. Aqui a gente é bem vulnerável! 


Grande abraço e até a próxima!


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